quarta-feira, 23 de julho de 2008

tire essa culpa do caminho que eu quero passar

eu quero passar, eu vou passar, eu estou passando.
tire essas tralhas do caminho que eu passarinho. que eu me encho de migalhas.
eu apaguei textos escritos, eu mantive textos ocultos, e eu mando que tirem o entulho do caminho que eu estou passando e passo sem pestanejar.
eu chorei quando devia rir e eu ri quando devia chorar. de um jeito entranho, eu paguei as minnhas dívidas e, portanto, pago o que for preciso pra eu passar.
NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM CAMELÔ QUE VENDIA UM COLETE DE CULPA ULTRA-RESISTENTE AOS BURACOS DE PULGA. MAS ELE NÃO ME PEGOU. QUE PEDÁGIO PRA MIM É COMER POEIRA E CAGAR MELADO.
estou sozinha: eu não estou com a zica, eu não estou com a pá virada, eu não estou com o tinhoso. e o que não me acompanha só me faz mais forte.
a solidão não me intimida: nem sou sua aliada nem quero ver o seu oco. eu só não bebo mais com o acaso e não danço mais com a sorte.
porque as companhias radioativas dão um vômito de borracheira e as compahias etílicas dão uma ressaca de porre. e as companhias herdadas nos dão, no máximo, uma caneta ou um broche com sua marca.
eu estou passando essa estrada cheia de buracos. eu estou passando sem lenço e sem documento, mas com munição. tirem essas caras de horror que eu quero passar sem um pingo de sangue sobre o chão.
ainda que eu derrube um balde de dor.
nem a tevê e as gruas estanques, nem os etês, as putas, os punks: nada vai me impedir de passar. é o tempo que eu investi que eu vou sacar.
é o tento daquele rude blefe de antes.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

a sexta vez

eu tinha acabado de chegar do leblon. sim, foi muito chique pedir emprego como garçonete. lá eu descobri que, oh deus, até pra equilibrar pratos é preciso passar por uma bateria de testes e uma chuva de concorrentes. se você não tem pelo menos um segundo grau - e bem feito - esqueça. os alunos do meu namorado, do colégio raul seixas (em costa barros), por exemplo, não teriam a menor chance. vocês sabem como é, o número de aulas é reduzido por causa dos mandatos de paralisação dos traficantes do chapadão e, além disso, as escolas que tem taxas de reprovação muito alta não recebem o auxílio do nova escola (acho que é esse o nome). e como um professor não pode viver com menos de seiscentos reais por mês, os alunos passam. e a escola passa por eles. não que na faculdade federal as coisas sejam muito diferentes. geralmente, os traficantes não fazem muita qustão por elas, mas por outro lado, os reitores decoram suas casas com grande parte da verba e os professores não se dedicam com exclusividade para aquilo porque simplesmente não vale a pena.
é claro que eu estou generalizando, é claro que existem exceções. vai ver que até na política elas existem. mas o fato é que o dantas, o naji e o pitta já foram soltos e aqueles que chegaram bem perto de provarem toda a corrupção há muito sabida, já estão devidamente afastados do caso.
mas como eu dizia, o caso é que eu gastei quase três horas pra ir e voltar dessa entrevista pra garçonete. voltei rezando pra que rolasse, porque eu quero voltar a estudar e preciso de um trampo à noite. só estudando pra concurso mesmo, eu finalmente cedi. eu também quero mamar nas tetas do governo ao invés de só tomar no rabo. porque eu ainda sou uma criança, não importa o que meus pais ou a sociedade digam. importa é o que a julia, uma pequenina que conheci, me disse. "você tem quantos anos?" "quantos anos você me dá?" "eu não sei bem" "ah, chuta" "trinta?" "você acha que tenho trinta!?" "quarenta??" "não ju, eu tenho vinte e quatro" "ah, então você ainda é criança" "é, pode-se dizer que sim".
mas antes disso, oh dispersão, eu dizia que tinha chegado do leblon. e tava em copa. eu ia mudar no dia seguinte, já era a sexta mudança em um ano. era muito surreal, mas eu tinha achado um bom lugar, melhor do que todos os anteriores, e continuaria em copa. a dona do apê sujo e lotado onde eu tava ia ficar puta comigo, eu tinha ficado um mês só lá, mas eu tava pouco me fodendo. eu posso contar nos dedos de uma mão as pessoas que me ajudaram nessa zona de cidade e ainda sobrariam dedos. eu tava desempregada, o namoro já não era tão bom quanto antes, mas eu tinha achado uma vaga limpa e relativamente tranquila pra morar. eu ia mudar, doesse a quem doesse. mas antes disso, eu precisava de alguma cerveja.
algumas garrafas na verdade, quatro pra ser mais exato. eu tava terminando de ler notas de um velho safado e quando o livro acabou, eu havia secado a quarta garrafa. era muito, eu até deixei uma delas cair no chão. ela virou cacos, mas o garçom não se importou. eu não sei se foram os óculos e o livro ou se foi apenas o fato de eu ser mulher mesmo. de qualquer jeito, ele até me deu uma dose de qualquer coisa com as poucas moedas que me sobraram depois que eu paguei a conta. eu voltei pra casa a pé, muito alta, muito a fim de escrever, mas sem um computador por perto. daí eu usei o verso de uma folha que tava por ali, acho que era o desenho do neto da dona do apê. eu não sei, parecia um esboço de um desenho e eu tentei fazer um esboço de um texto.
depois de acordar com uma mega ressaca, tomar banho, levar as malas pra outra casa, eu achei a folha. até deu pra entender a maioria das palavras escritas, mas eu não sei onde enfiei o maldito papel. quando eu achar, eu passo a limpo.
quando eu achar um rumo, eu também passo a limpo. a minha vida.