terça-feira, 30 de setembro de 2008

quem não tem colírio e nem óculos escuros

Renato Russo, outro candango, dizia que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira. Eu, por meu turno, digo que rir de si mesmo é sempre a melhor risada. E meu drama de ultimamente é que eu não vejo mais graça em meus tropeços.
Depois de torcer o pé, correr do cerrado como o diabo corre da cruz, passar um bom tempo enlatada como atum no metrô, chegar atrasada em prova de concurso e ficar mais entediada que em cristalândia em meio a uma cidade como o Rio de Janeiro; eu fiquei assim doente, fiquei com essa falta crônica de humor. Só me restou esse humor conta-gotas, esse que só aparece depois de algumas doses ou de alguns tragos.
Eu poderia pôr a culpa na cidade, nos tiros que a gente é obrigado a escutar com mais ou menos frequência, na discrepância colossal entre o morro e a cobertura. Assim como, em Brasília, eu poderia pôr a culpa na falta absurda de umidade e no excesso gritante de políticos corruptos e/ou acomodados. Eu poderia pôr a culpa, sempre e em qualquer lugar, nos meus pais e na pressão sistemática que injetaram na minha cabeça atormentada durante toda a minha vida. E, claro, eu poderia pôr a culpa em deus que "me fez" assim meio autista, assim meio frígida e tão rebelde e tão intratável. E, antes que eu me esquecesse, eu poderia pôr a culpa no sistema que nos faz massa e tanto nos aperta.
Todas essas seriam razões mais dramáticas e mais clichê. Pôr a culpa exclusivamente em mim, porém, se mostraria uma comédia boçalmente forjada.
Onde andará a tragicomédia nesses dias tão estranhos?
É a primeira vez sempre a última chance?
Disse o Seu Russo que o Senhor Raul não me atende mais, disse que eu já o chamara demais.
...
Ninguém tem um saquinho pra eu soprar dentro?

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